A mente TDAH e o poder da música
Por Drika Gomes
Publicado em 03/11/2025 23:00 • Atualizado 06/11/2025 16:32
Música

 

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição que afeta milhões de pessoas no mundo, marcada por dificuldades em manter o foco, controlar impulsos e regular o nível de energia. Mas, antes de qualquer julgamento simplista como “falta de disciplina” ou “preguiça”, é preciso entender que o TDAH é, na verdade, uma questão neurobiológica: o cérebro funciona de forma diferente.

 
 
 

O que acontece no cérebro do TDAH?

 

Pesquisas em neurociência mostram que, no cérebro de pessoas com TDAH, há uma alteração nos circuitos dopaminérgicos, ou seja, nas vias que regulam a dopamina — neurotransmissor responsável pela motivação, recompensa e atenção.

 
  • Baixa disponibilidade de dopamina e noradrenalina: essas substâncias ajudam o cérebro a filtrar estímulos e priorizar informações. No TDAH, essa regulação é menos eficiente, o que gera dispersão e dificuldade de manter o foco por longos períodos.

  • Córtex pré-frontal menos ativo: região responsável pelo planejamento, organização e controle de impulsos. No TDAH, ela pode apresentar uma atividade reduzida, dificultando o gerenciamento do tempo e das tarefas.

  • Rede de modo padrão hiperativa: essa rede neural, que costuma estar ligada ao devaneio e à imaginação, tende a se ativar mais facilmente, levando a distrações frequentes.

 

É por isso que a mente TDAH funciona em um ciclo oscilante entre hiperfoco (quando algo é altamente estimulante) e dispersão (quando a motivação química não é suficiente para sustentar a atenção).

 
 
 

Como a música pode ajudar

 

A música tem um papel regulador poderoso no cérebro porque atua justamente nas áreas ligadas à emoção, atenção e memória. Estudos em neurociência apontam que ouvir música pode aumentar a liberação de dopamina em até 9%, algo crucial para quem tem TDAH.

 

Além disso:

 
  1. Ritmo constante: músicas com batidas regulares ativam o sistema motor e ajudam a sincronizar o cérebro, favorecendo a organização interna.

  2. Estímulo ao córtex pré-frontal: determinados tipos de música (clássica, instrumental ou minimalista) promovem maior atividade nas áreas do foco e do raciocínio.

  3. Equilíbrio emocional: a música reduz os níveis de cortisol, diminuindo a ansiedade que muitas vezes acompanha o TDAH.

  4. Ativação da memória de trabalho: melodias estruturadas ajudam o cérebro a treinar a retenção e a sequência de informações, melhorando o desempenho cognitivo.

     
 

Quais tipos de música são recomendados?

 

Não existe uma única resposta, porque cada cérebro responde de forma particular. No entanto, pesquisas e práticas clínicas têm mostrado bons resultados com alguns estilos:

 
  • Música clássica (Bach, Mozart): conhecida como efeito Mozart, pode melhorar a organização neural, foco e raciocínio lógico.

  • Músicas em 60 a 80 BPM: esse ritmo se aproxima do batimento cardíaco em repouso, trazendo sensação de calma e favorecendo a concentração.

  • Frequências específicas (432 Hz e 528 Hz): associadas a estados de equilíbrio, relaxamento e criatividade.

  • Batidas binaurais em ondas alfa (8–12 Hz) e teta (4–7 Hz): eficazes para reduzir ansiedade e melhorar a atenção sustentada.

  • Música instrumental sem letra: reduz distrações, já que a linguagem verbal pode competir com a atenção em tarefas que exigem foco.

     
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